sexta-feira, julho 24, 2009

Intenso

No decorrer da última semana verificou-se:

Comemoração dos 40 anos da ida do Homem à Lua.
- O que abre perspectivas de daqui a uma década se celebrar meio século da ida do Homem à Lua.

Eclípse total do sol, que apenas se verificou na sua plenitude em algumas regiões da Ásia. Foi o maior eclipse solar do século e só deverá repetir-se daqui a mais de 120 anos.
- O que abre perspectivas de que entre os actuais e vivos humanos, apenas Manoel de Oliveira conseguirá assistir ao próximo eclípse total.

Por ordem do Juiz o banqueiro Oliveira e Costa (caso BPN) vai continuar a cumprir a sua pena em prisão domiciliária, com pulseira electrónica.
- O que abriu perspectivas de o Correio da Manhã fazer a manchete: "Banqueiro tropeça à porta de casa"

O mesmo jornal publicou a foto:



- O que abre perspectivas de depois do Strip Poker, podemos vir a ter o Strip Polo.

O avançado Caicedo perfila-se como o próximo jogador a alinhar pelo Sporting.
- O que abre perspectivas de formar a dupla com Liedson: Caicedo & Caisempre.


O mais triste disto tudo é a morte de Rui Cartaxana, aquele que era para mim o melhor jornalista e cronista desportivo da actualidade. Daqueles que não tinha medo de chamar os bois pelos nomes, sempre com a verdade desportiva no horizonte.
Perdemos todos e perde o jornalismo, mas mais perde o jornal Record que sem o seu melhor
homem, se afunda ainda mais na merda tendenciosa que é.


E como era o único cronista que actualmente lia, o minimo que posso fazer é deixar a sua última crónica de 5 de Março de 2009:




O misterioso cafézinho



"As últimas cenas passadas dentro e fora do Tribunal de Gaia, onde estão a ser julgados por corrupção os srs. Pinto da Costa, presidente do FC Porto, Augusto Duarte, árbitro de futebol, e António Araújo, empresário de jogadores e "homem de mão" do presidente têm qualquer coisa de "dejá vu".
Algures noutras paragens, mais mediterrânicas e mais violentas, com base em dinheiro vivo, que passa de mão para mão com fins misteriosos em misteriosos envelopes, acontecem, de facto, cenas assim. O silêncio é a grande lei da família e testemunha que se atreva depor contra alguém do grupo (contra o chefe então, é impensável) é hostilizada e agredida, se não lhe acontecer pior, porque por ali só o silêncio é soberano e contra ele ninguém pode, nem os senhores da capital.
Todos nós já vimos coisas assim em cinema, só que agora temos ali a coisa ao vivo dada em directo e, mesmo se o guião não é tão radical, não faltam por cá os personagens estranhos e as situações. A testemunha maldita, Carolina, apesar de protegida (?) pela Polícia, acaba insultada e agredida por "populares", o agente da autoridade (árbitro) alegadamente corrompido não comparece, invocando misteriosa doença. O pior é que a sua versão não joga com a do alegado corruptor e figura central do drama (segundo ele, árbitro, foi apenas "tomar um cafézinho e ter uma conversinha" com presidente, precisamente na véspera de ir arbitrar um jogo com o FC Porto. O qual, presidente, "explica" tudo com um encontro de aconselhamento, a pedido do árbitro, "coisas familiares". Não falta, sequer, a figura do intermediário, engajador e "homem de mão", o fiel Araújo, presente em tudo e para tudo, ou a irmão-gémea, que trai a outra gémea, Carolina, a troco de benesses do "homem", vai depor contra o "próprio sangue" e corre com os jornalistas fazendo-lhes um gesto obsceno com o dedo da mão espetado. Tudo gente fina. Como se vê.
Pairando sobre as cabeças destes personagens de ópera bufa andam 2 500 € em cinco notas de 500, que a então doce Carolina diz que meteu num envelope a pedido do então marido e presidente para ofertar, com o "cafezinho", ao pobre Augusto Duarte, que eles precisava, vá-se lá saber para quê em conjuntura de tantas e tão grandíssimas dificuldades como as que vivemos.
Alguém percebeu aquela do presidente dizer agora em tribunal que sabia muito bem que tinha o telefone sob escuta? Estaria assim tão certo de que as escutas eram "ilegais"?



Rui Cartaxana



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